quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Café Europa: Emissão #89, de 23 de Setembro de 2013

1.ª Hora
01. STORMFÄGEL - "Och Slamme Ovänner" (SWE)
02. DEAMONIA NYMPHE - "Psychostasia" (GRE)
03. MOON FAR AWAY - "Mama PYCb" (RUS)
04. ORDO EQUITUM SOLIS - "Erica" (FRA/IT)
05. ONIRIC - "Tomorrow the Sorrow" (IT)
06. Ô PARADIS - "La Verdad De Los Peces" (ESP)
07. WHILE ANGELS WATCH - "Voices (pre-mix edit)" (USA)
08. ROME - "Hate Us And See If We Mind" (LUX)
09. TEARS OF OTHILA - "Inner Eyes" (IT)
10. STURMPERCHT - "Der Schlafende Kaiser" (AUT)
11. ALLERSEELEN - "Wir Tragen Ein Licht (Fräulein König)" (AUT)

2.ª Hora
Entrevista com os ERMO
01. ERMO - "s/t" (PT)
02. ERMO - "Destornado" (PT)
03. ERMO - "Montalegre" (PT)
04. ERMO - "Dies Irae" (PT)
05. ERMO - "Concílio” (FRA)
06. IN GOWAN RING - "Arrowsmith’s Fire" (USA)
07. JAHRTAL - "Im Jahrtal" (GER)
08. LUX INTERNA - "Nida" (USA)
09. STRYDWOLF - "For No Reason" (NED)
10. STRYDWOLF - "Lichstrahl" (NED)
11. DARKWOOD - "Fliegergedicht" (GER)
12. KLAMMHEIM - "Nix Wie’s Wor" (GER)
ERMO @ Colinas Bar

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Café Europa: Emissão #88, de 16 de Setembro de 2013 | Especial Festival FadeIn Entremuralhas 2013 – Review último dia

Especial Festival FadeIn Entremuralhas 2013 – Review último dia
“Banda Sonora da Reportagem”
01. ROMA AMOR (IT)
02. NAEVUS (GB)
03. QNTAL (GER)
04. SOROR DOLOROSA (FR)
05. KAP BAMBINO (FR)
Entremuralhas 2013, a nossa apreciação ao que se passou no Castelo de Leiria no último dia do Festival e ainda passagem das duas entrevistas efectuadas nesse dia, primeira à dupla ROMA AMOR e a outra ao britânico LLYOD JAMES dos NAEVUS.
ROMA AMOR que abriu as hostes no Palco das ruínas da igreja da Pena e que forma para muitos a surpresa deste festival. Para nós, aqui no Café Europa eram já uma certeza e um dos bons motivos para ter estado presente neste magnifico Festival dos bons amigos da FadeIn.
Ainda nas ruínas da Igreja da Pena seguiu-se o trio germânico DIE SELEKTION, no entanto, apesar do atrazo motivado por alguns problemas técnicos, foi-nos de todo impossível assistir a esta prestação de Hannes Rief , Max Rieger e Luca Gillian, pois que nesse momento estávamos à conversa com Alexandra Euski  e Michele Candela na varanda real dos paços novos.
Depois da entrevista aos ROMA AMOR o destino foi o palco Alma onde a noite chegava ao som dos NAEVUS que traziam na bagagem uma set-list especialmente preparada para este seu regresso a palcos nacionais com LLOYD JAMES acampanhado de um line-up brilhante.
Os NAEVUS foram a aposta pessoal do Carlos Matos, uma grande aposta, que para nós estaria ganha à partida, mas que, atendendo ao desconhecimento manifesto de muitos dos presente, não era assim tão evidente. No entanto, com o final do concerto foi notória a satisfação daqueles que assistiram a um dos momentos do EM’13.
LLOYD JAMES que após arrumados os instrumentos deslocou-se connosco até ao local das entrevistas desse dia, a varanda real dos paços novos, onde na companhia da sua namorada, trocámos uma mão cheia de ideias, que mais adiante passaremos.
Antes da ida até à varanda real, podemos ainda assistir à parte inicial do concerto que fechou no EM’13 o Palco Alma. Tal honra coube aos germânicos QNTAL e o local parecia mesmo feito à medida da banda. Os sons medievais dos QNTAL ganharam novo fulgor com a envolvente proporcionada pela Torre de Menagem e as Muralhas do Castelo de Leiria. Foi sem dúvida uma despedida em beleza do Palco Alma para o EM’13.
Para o final do Festival duas prestações francesas no Palco Corpo. Os primeiros a dar o Corpo foram os SOROR DOLOROSA. Foi o regresso ao Entremuralhas de Andy Julia, depois de no ano passado ter colaborado com Geoffroy D na estreia por cá dos Dernière Volonté. Foi um grande final de festival a fazer jus à designação de “gótico”, e mostrando um Andy Julia muito diferente daquele com quem conversámos o ano passado.
Depois dos SOROR DOLOROSA, a festa de encerramento também veio de França com os KAP BAMBINO a arrasar todos os que resistiram até à sua entrada em palco. Foram a escolha mais polémica do Festival, com diversas criticas bastante contundentes, mas que aqueles que tiveram a paciência e a curiosidade para compreenderem o porque da escolha, confirmaram o quão injustas foram tais criticas.
Foi mais edição do EM’13 onde apenas nos apetece dizer uma coisa:
Obrigado a todos os que na fade in nos proporcionam, pelo menos uma vez por ano tão bons momentos, de imenso prazer.
Agora passagem para as para os concertos e entrevistas com os ROMA AMOR e com LLOYD JAMES.

ROMA AMOR @ Ruínas da Igreja da Pena - Castelo de Leiria
Terceiro dia do Entremuralhas, caracterizado por mais uma tarde escaldante dentro dos domínios do Castelo.
Embora fosse o último dia e, por assim dizer, só restassem menos de doze horas até ao seu encerramento, o ambiente psicológico, gerado pelos acontecimentos das vésperas, elevava ainda mais alto a antevisão de um fecho de festival em grande.
O início estava previsto para pouco depois das 18 horas, com a estreia em Portugal do duo italiano ROMA AMOR; enquanto nos abrigávamos sob umas escassas sombras, junto à porta das ruínas da Igreja da Pena, onde o palco já estava pronto, ouvíamos alguns membros da organização a trocar impressões sobre as suas preferências musicais transalpinas, enquanto ajustavam os últimos preparativos para o balcão onde a céltica beberagem patrocinadora iria ser vendida – e alguns dos nomes referidos, como CamerataMediolanense, EgidaAurea e sobretudo Ianva, pareciam fazer todo o sentido para incluir em futuros sets do festival. Dir-se-ia que a Itália se tornou deveras um país fulcral para a moderna música popular e nós, seus companheiros sulistas atlânticos, uns dos seus melhores apreciadores.
Enquanto isto, vemos chegar um jovem casal franzino, que de imediato reconhecemos como EUSKI e MICHELE CANDELA; timidamente sorridentes, passam pela porta ogival e dirigem-se para as traseiras do palco, a velha sacristia que serve de bastidores a todos os que atuam na Igreja da Pena. De resto, o profissionalismo irrepreensível de ambas as partes (organização e bandas) mais uma vez se faz sentir – entre a chegada e o início do concerto passa nem meia hora e, enfrentando uma nave que aos poucos se vai enchendo, os ROMA AMOR, sentados e empunhando a guitarra e o acordeão, encetam um dos mais memoráveis concertos da vida do Entremuralhas.
A despretensão de imagem do duo faz justiça ao seu grande talento musical e interpretativo – EUSKI tanto personifica uma donzela do norte de Itália, abrindo o coração, precocemente desiludido com as coisas do Amor, como de repente se metamorfoseia na mais terrível das ancestrais feiticeiras, debitando pragas, esconjuros e maldições, ou na mais vingativa das rivais moçoilas que na Romagna dos últimos séculos despontavam para paixões ardentes, zombando umas das outras. Não é só uma cantora, não é só uma guitarrista, é também uma magnífica atriz. MICHELE CANDELA, com o seu coçado uniforme de cabedal de pós-punk e boné marujo, abraçando energicamente o acordeão, é por assim dizer a eminência parda – aparentemente tímido e fugidio, arisco como um gato vadio,garante a blindagem sonora permanente à sonoridade ROMA AMOR – é como se, de facto, fosse a espinha dorsal das canções,enquantoEUSKI representa alma e sangue, uma entidade que se constrói paralela e que parece subir, ecoando sob as ruínas dos arcos da abóbada. Neste ponto, fazemos igualmente jus ao mote deste festival – uma experiência vivida é diferente de uma experiência contada.
Os aplausos irrompem brutais e quase descontrolados, às vezes antecipando-se aos finais das canções, e estamos em crer que não é só por sabê-lasde cor… o encore tem sabor a pouco, mas há horários a cumprir e a próxima banda DIE SELEKTION não tarda. Não os vamos ver e lamentamo-lo, mas temos entrevista marcada com os ROMA AMOR na varanda real dos Paços Novos – uma boa conversa.
Entrevista de Eusky e Michele Candela para o Café Europa
Encontrámos o duo ROMA AMOR após o flamejante concerto da tarde à saída dos bastidores improvisados, que é a sacristia, a qual dá para outro segmento das ruínas. Apresentações feitas, dirigimo-nos para a extensa varanda dos Paços Novos, onde nos espera uma mesa e cadeiras, cenário ainda por demais embelezado pela deslumbrante vista sobre a cidade. Há pessoas sentadas nos bancos de pedra dos nichos que, à primeira, parecem não reconhecer o grupo nem o propósito do nosso recolhimento naquele lugar, continuando a falar e a rir alto. Entretanto, começamos a conversar…
De antemão, tecemos um rasgado elogio ao concerto a que acabámos de assistir, e sublinhamos a total entrega com que o fizeram, atestando o retorno emocional que as canções dos ROMA AMOR nos motivaram. Sorridentes e humildes, os dois músicos agradecem. Há um belíssimo disco novo, um longo EP de dez polegadas, com cinco temas, chamado “17th of March” ou 17.3, para abreviar; será apenas a continuação do bom trabalho ou talvez um novo começo para os ROMA AMOR? Não será exactamente um novo começo mas mais uma evolução; o duo iniciou recentemente o trabalho em novas canções e pensaram ser uma boa ideia tentar misturar os velhos sons com outros, os acústicos com outros algo diferentes. Talvez para o ouvinte mais conhecedor, este EP pode soar bastante diferente, mas para nós não – cruzam velhos sons acústicos com uma sonoridade electrónica, estando o acordeão também omnipresente neste trabalho, assim como a guitarra, embora por vezes um pouco mais escondida, em comparação com os outros álbuns.
Ficámos a saber no outro dia – de resto, bastava olhar para os créditos na capa de “17.3” – que tiveram a colaboração de elementos dos compatriotas Teatro Satanico; como foi trabalhar com uma das mais estranhas bandas, em matéria de som, vindas da Itália? EUSKI atalha
Bem, encontrámo-nos em Ravena e, sabendo que ele (Devis Granziera) é um entusiasta dos sons electrónicos, começámos a conversar sobre efeitos de som, porque nós estávamos a precisar de alguns em particular, e ele mostrou logo grande interesse, querendo acrescentar registos de cordas que se podiam ajustar bem ao som dos ROMA AMOR. Com efeito, nem todos os diferentes sons no EP “17.3” são da autoria de Granziera; houve o acréscimo de sintetizadores vintage, ruído de korg monotron… foi intrigante para nós, explorar estes instrumentos, mas também ficar a conhecer um pouco mais sobre música, do ponto de vista técnico, percebes, trabalhar mais sobre a música.”
Já lá voltaremos ao EP, entretanto há que sublinhar que foi lançado num dos mais significativos selos da nova música europeia, a austríaca Hauruck, através da extensão romana Hauruck SPQR, a qual tem oferecido através dos anos, uma exuberante variedade de novos grupos e novos músicos; apesar de tudo, as vossas canções soam por vezes mais doces e mais cheias de alma, que o trabalho dos vossos típicos colegas de selo. Sentem-se como únicos nesse label?
Bem, já no nosso principal selo, a Old Europa Café, não somos uma das bandas típicas (risos),” -embora – atalhamos nós – a OEC tenha sempre sido um selo de mente aberta face às sonoridades específicas de cada banda. “O que sucedeu foi que a Hauruck estava muito interessada no nosso som e queriam muito fazer algo connosco; logo assim que nos conhecemos se gerou uma colaboração muito agradável, proporcionando-nos a “chance” de trabalharmos para uma edição em vinil, em vez do CD do costume. Pediram-nos para fazer algo assim e ficámos muito satisfeitos com isso; digamos que não é da nossa conta; se por vezes soamos mais doces e suaves que os outros – às vezes isso soa mais forte - … o impacto emocional sobre o público é mais forte e dá para observar.
Quando é que começaram como banda? Curiosa esta nossa pergunta: os dois parecem confusos, primeiro é Michele que diz
2009-2010”, em italiano, ao que EUSKI exclama admirada “Como, 2009? 2008!”, ao que contrapomos: Pouco tempo, então, antes do lançamento do vosso primeiro álbum? ”Oh não, deve ter sido no ano anterior!” “Sim, mais ou menos meio ano antes do álbum, ou lá próximo”. Para rematar toda esta confusão de datas, acrescentamos que nos lembramos de ter passado os dois álbuns iniciais que se ajustam a essas mesmas datas, logo estará tudo certo.”Mais ou menos…
Algumas das versões que têm feito ao longo da vossa carreira, são covers de artistas que ficaram famosos por congregar grandes quantidades de sentimento, inteligência e talento, tais como Marc Almond, Jacques Brel, David Sylvian e Bowie, assim como o menos conhecido artista argentino Luis Enrique Bacalov; significa esta refinada escolha de santos patronos que, antes de vocês serem conhecidos, passaram por uma fase de esforçados discípulos de todos estes monstros sagrados?
EUSKI admite de imediato que é fã de Marc Almond desde os 10 anos e que tem qualquer coisa como setenta discos dele entre vinil álbuns, singles e CDs, porque adora as vozes e o seu modo de fazer arte, e o mesmo em relação a Bowie; descobriu Brel mais tarde, o que também diz ter acontecido há muito tempo. E terão as suas influências de algum modo condicionado a forma como interpretam os temas em palco – isto porque ela não é meramente uma cantora e guitarrista, funciona antes como uma atriz-intérprete.
Sim, é a minha maneira de me expressar através da minha música, expressar o meu mundo interior, e sempre adorei os artistas quando, por assim dizer, se despem perante a audiência; esses artistas para mim, são mesmo assim e Bacalov também, para além da música, também está ligado ao cinema. Esta tarde não pudemos projectar o nosso complemento visual, por causa da luz do dia e do lindíssimo local, senão poderiam ter visto algumas passagens de filmes com banda sonora de L.H. Bacalov.
Do trabalho de Bacalov, da sua música, do seu som, qual é a parte que vos interessa mais? Apenas as canções, a poesia ou só a música por si própria? Os processos de composição?
“Claro, ele é um grande compositor e um grande arranjador também, mas para as canções que escolhemos para figurar no nosso primeiro álbum, adorámos mesmo o filme, intitulado “The Designed Victim”. Esta canção, que era cantada pelo ator protagonista Thomas Millian, era mesmo apaixonada, no sentido mais profundo de paixão, do verbo “patire” que significa padecer, sofrer (risos) – era tão bela e quando algo me faz sentir de forma particular, tenho que trabalhar sobre isso, ou pelo menos tento.Esta banda sonora foi feita de parceria nos anos 70 com uma banda prog italiana, os New Trolls, dando origem à sua colaboração no álbum “Concerto Grosso”, de 1971, que é realmente um dos marcos do prog italiano”
Quando começaram a banda, inicialmente, estabeleceram de imediato que iriam tocar guitarra e acordeão como instrumentos principais, ou acostumaram-se usar outro tipo de instrumentação, para além da colaboração de outras pessoas em estúdio, outros instrumentos acústicos de raiz popular caracteristicamente Italianos?
EUSKI concorda: “Sim, claro, usamos o bandolim, até porque fizemos alguns concertos usando um outro guitarrista e um bandolinista de nome Roberto Zabberonni, e o som do bandolim para nós adapta-se perfeitamente a certas atmosferas, como as que por exemplo se encontram no álbum Occhi Neri…” – absorveram então essa essência da verdadeira música folk popular e não só a referida influência da canção de cabaret…? MICHELE acrescenta: “Quando tocamos os dois, o acto, a performance, é um pouco mais cabaret, e quando actuamos com outros músicos, depende tanto do local como da própria colaboração; quando tocámos com o Roberto Zabberonni, os arranjos eram mais folk, com o bandolim, com a harmónica, a guitarra flamenco, etc., mas também demos outros com o Devis Granziera, há alguns meses, e os arranjos, claro está, tornaram-se mais eletrónicos. É ele que coloca as electrónicas nas nossas canções.” Aqui, EUSKI atalha – “a componente folk está também presente nalguns estudos folclorísticos, como por exemplo no álbum “Femmina” - tentámos estudar um lote de figuras femininas, da nossa tradição, começando pela sua linguagem, no nosso dialeto que não é muito conhecido – e em Itália temos milhares deles - e por isso, para mim, é algo particular que queria trazer à luz nesse álbum. Penso que o folclore não é só a versão ou canção popular, é também descobrirmos algo que tem a ver com as tuas raízes, assim como a linguagem de onde é oriundo, e usá-la dessa forma é muito importante – para mim é belo.
Mesmo que para um público possa soar como um anacronismo?
“Sim, mas penso que eles gostam, talvez sorriam às vezes, mas gostam mesmo.”
Agora uma questão mais para o MICHELE CANDELA – um dos instrumentos que está na base da vossa música é o acordeão, um instrumento cujos créditos na música estão definidos como exigentes de um sólido domínio da sua execução; terias de início a noção do charme poderoso do acordeão, tanto ao vivo como em disco, ou aconteceu simplesmente de uma forma natural? Por exemplo poderias usar um registo de teclado, bem mais simples e fácil…
Claro, ao vivo prefiro usar o instrumento, e tento misturar o estilo tradicional de tocar acordeão com novas técnicas, especialmente derivadas de compositores minimalistas, tais como Yann Tiersen, que por sua vez foi influenciado pela escola minimal de Wim Mertens, e dos outros compositores mais conhecidos como Michael Nyman e Philip Glass. Pessoalmente, toco o acordeão há cerca de seis anos, já era crescido, portanto não quando era miúdo (risos, dado que Michele é ainda um jovem aparentando menos de 30 anos).
“Occhi Neri” e “17.3” são lançamentos muito fortes – mais experientes, musicalmente poderosos, e definitivamente num nível mais alto de composição e escrita, nomeadamente, e em particular, na notável última faixa do mini LP “17.3”, de título “The Difference”, e era por isso que há pouco o referíamos como um recomeço – um tema que soa tão inteligentemente jazzy, mas manifestamente moderno e ousado, ao ponto de quase chegar ao progressivo…de resto vós tendes consciência disso, fostes vós que criastes as músicas, e que portanto soa mais progressivo…querem comentar?
Sim, de facto soa, e para o efeito deste disco também colaborei com um amigo, que costumava tocar comigo noutra banda quando era mais nova e porque nos mantivemos em contacto, gostamos de vez em quando de colaborar, quando temos ideias novas, e por isso começámos por um simples teclado, reproduzindo os sons que tinha em mente para “The Difference”, fazendo-os soar dessa maneira, o que faz dele também um co-compositor de um tema do primeiro álbum, “A Cosa Pensi”, mas será só isso mesmo – gostamos de tocar coisas novas…
Um dos aspectos mais tocantes é a secção rítmica nesse mini LP, baixo e bateria – a percussão é verdadeira, não?
Não, é com teclados…”, responde EUSKI, ao que MICHELE apõe - “Depende, … nalguns temas são pré-gravados, noutros é mesmo bateria e baixo, dado que sou eu que toco. É portanto uma mistura. E agora estamos a preparar uma reedição em CD do mesmo mini LP com canções adicionais, e estamos a usar bateria e percussões verdadeiras” De resto – acrescentamos nós – é preciso uma vez mais sublinhar o excelente som do baixo nos temas de “17.3”, que soa bastante progressivo e agradável, neste EP ou mini LP, como se lhe queira chamar, sendo um dos traços que mais nos cativou a atenção, soando diferente que nos álbuns anteriores (e não esqueçamos que já vão no quarto disco).
Anteriormente, tínhamos enviado para o site oficial uma questão sobre a razão da escolha do tema “I’m Deranged”, de David Bowie e Brian Eno, pertencente a um dos álbuns mais difíceis de Bowie, “Outside” de 1995, e, como não houve possibilidade de resposta, gostaríamos agora que o fizessem … quais foram as principais razões para o adoptarem?
“Achei-o suficientemente desesperado para o considerarmos…ouvi primeiro a canção ao ver o filme “Lost Highway”, porque não a conhecíamos como tal, estava apenas na banda sonora; comecei a sentir curiosidade pelo tema, e para mim soava desesperada… (risos)…”
De certa forma, há minutos atrás, no palco, responderam indirectamente quando disseram que adoram desafios – porque poderiam tão simplesmente pegar num clássico dos 60’s ou 70’s de Bowie ou de uma outra colaboração com Eno e seria eventualmente mais fácil, mas este álbum, e este tema, são realmente perturbadores e difíceis de interpretar, expressando esse desespero numa canção – e pessoalmente adoramos a vossa versão.
“Sim, às vezes não a consigo cantar porque começo a chorar, é tão perigosa a esse ponto, e faz-me ver que devo ter cuidado com algumas canções, e quero dizer com isto que tentamos, não fingimos, não esperamos fazer a versão perfeita, é apenas um ímpeto físico, mas tentamos, continuamos tentando…”
- Como descreveriam então a rotina diária de uma banda como ROMA AMOR? Tocam frequentemente no vosso país natal? Contem-nos um pouco sobre a vossa aceitação local.
“Em Itália temos tocado, mas não sei bem o que querem dizer com “frequentemente” – temos as nossa ocupações como docentes e a música é a nossa paixão e fazemo-la porque gostamos de tocar ao vivo, de fazer a nossa música e de ouvir música dos outros; somos primeiramente fãs de música e depois é que nos transformamos em músicos…”
E à parte os vossos day-jobs, com que frequência é tocam ao vivo em Itália?
“Depende muito do ano – este ano já tocámos em Milão, em Modena, em Ravena, em Bolonha, … não é fácil escolher a ocasião certa para tocar porque, nalguns locais, as pessoas não estão exactamente interessadas em ver uma banda a tocar, mas apenas em ouvir uma música que serve de ambiente de fundo para uma “happy-hour” ou qualquer coisa do género, enquanto bebem cocktails (risos); podem estar algumas bandas a tocar mas a sua atenção não está focada no palco, mas antes na bebida, no facto de estarem juntos, é mais a banda sonora da festa (risos)…”
Isso é outro grande desafio, não? …“(risos)” … terem de agradar sem serem alvo das atenções…
“Sim, mas preferimos escolher a situação certa e o sítio onde as pessoas vêm para nos ouvir em concerto, interessadas no nosso desempenho, de escutar as palavras, portanto não é sempre fácil encontrar uma situação como esta aqui. Mas por vezes temos tido boas experiências, nomeadamente em Itália…”
De um modo geral, mantêm ou não, uma vigilância apertada sobre as vossas vendas de discos? Como vão indo nessa matéria?
“Vamos bem…a primeira edição do primeiro álbum está esgotada, e já foi reeditado, e em relação ao segundo, “Femmina”, está quase esgotado, sobrando de momento cerca de 20 exemplares; o terceiro, “Occhi Neri” está a vender bem, e o mLP vinil “17.3”, segundo sabemos, também está vender-se bem (- nota do editor - só para o Café Europa, foram três exemplares! …) e vai ser reeditado, como dissemos, com temas extra. Portanto, estamos contentes com a situação das nossas vendas; usualmente, quando tocamos, vendemos bastantes cópias… mais CD’s do que vinil, porque muita gente em Itália já não tem gira-discos, mas o vinil para nós é um suporte encantador e quando compramos música, se houver essa escolha, preferimos sempre uma cópia em vinil – e ouvimo-lo bastante – mas para dizer a verdade, as pessoas compram-nos mais CD’s que vinil, quando os vendemos no final dos nossos concertos…
Esta pergunta pretende ser inocente e sem pinta de crítica mas, já pensaram em tornarem-se intercontinentais? Gostariam de ir tocar à América?
À Argentina ! ...” – parece pedir EUSKI, num tom divertido mas que transparece um certo fascínio pela nação sul-americana… “Sim, gostaríamos de lá ir,…” – entretanto, aproveitamos para esclarecer que quando dizemos América, queremos dizê-lo no plural, as três Américas… “Sim, até porque temos uma pequena base de fãs lá, fãs que se tornaram entretanto amigos, que também têm um programa de rádio e às vezes tocam as nossas canções, e já nos pediram para lá tocar, mas não é algo fácil de se lidar porque é caro lá ir, e tem-se que lá ficar e eventualmente fazer uma digressão alongada e … como somos professores… o problema é conhecido. Talvez no Verão, que lá é Inverno, portanto…seria uma espécie de natal no verão para nós.” Atalhamos que estávamos a sugerir um outro local nas Américas, onde poderiam ter outro tipo de sucesso – na grande maçã Nova-Iorquina. Iriam decerto soar muito bem em Nova Iorque, (explique-se, em jeito de nota de editor: concretamente, junto das franjas do público descendente de 4ª e 5ª gerações de emigrantes italianos, nem que seja pela curiosidade de ver longínquos compatriotas tocar desta forma), ao que EUSKI responde a rir : “Mas em Nova Iorque qualquer coisa pode acontecer… mas isso soa tudo tão estranho!
Uma questão leva a outra – como é que uma excelente banda, como vós, pode crescer e no entanto ser capaz de sobreviver às exigências que maiores empreendimentos sempre implicam? Ou colocando a questão de outra forma, algum dia estariam dispostos a trocar a vossa independência por um contrato maior, num selo grande?
“Nunca pensámos nisso e não é problema nosso…não digo nem sim nem não, porque está de tal modo distante da minha vida e da realidade em que eu vivo que… para nós não é importante, porque tocamos música porque gostamos, temos essa paixão; o que pudesse acontecer, desde que fosse algo positivo, ficaríamos contentes por isso…”
Como é que comparariam os vossos registos em termos puramente analíticos e com quais é que se identificam mais?
Realmente não conseguimos dizer – cada álbum tem um pouco de nós…cada dos quatro lançamentos é diferente, mas cada um tem o nosso modo…algo em comum. Em cada, coloquei memórias especiais para canções especiais” – explica EUSKI – “no primeiro, há alguns tributos a grandes artistas, mas há também canções de que gosto muito como “A Cosa Pensi”, que eu canto há muito tempo, comecei a cantá-la muito jovem. E também há muitas outras. Por exemplo, em “Femmina”, é onde se vêm as minhas raízes, com os dialectos locais que me dizem muito respeito e, em “Occhi Neri” é onde estão as mais românticas, aquelas canções que me fazem sentir muito forte… – …É difícil porque nos álbuns estão coisas que amamos de verdade e quando tocamos ao vivo tocamos um pouco de cada álbum – ou o álbum todo – portanto nunca escolhemos um só, a não ser quando recentemente escolhemos os temas de “Femmina” para um concerto no dia 8 de Março em Ravena porque era o dia internacional da Mulher e nos pediram para alinhar tematicamente com esse propósito, mas mesmo assim tocámos temas dos outros discos”.
Portanto, vão-nos manter na expectativa do seguimento do miniLP“17.3” com curiosidade…“…Talvez em Janeiro deva estar cá fora” – E já nos deram a pista de que não vai soar muito diferente? “Vai haver primeiro uma reedição em álbum com as remisturas de “17.3” mais cinco faixas novas, algumas mais acústicas e outras com mais surpresas, portanto será uma mistura perfeita, no fundo para completar o que saiu no vinil. Haverá uma versão de Tom Waits, mais alguma beat electrónica…mas vai continuar a soar como ROMA AMOR
Vamos então à última pergunta – como é que sentiram o show deste final de tarde?
MICHELE é sincero: “Muito bem – a localização era encantadora – tocámos bem, é claro que houve alguns problemas, especialmente com o micro de EUSKI e outros detalhes técnicos menores…”; EUSKI aproveita para sublinhar que, do que gostou mais foi a perfeita localização, já que lhes tinham enviado imagens das ruínas da capela para demonstrar que não seria possível fazer as projecções de vídeo planeadas para acompanhar o concerto dos ROMA AMOR, não só pela impossibilidade física de o fazer mas porque à hora prevista do concerto não estariam reunidas as condições ideais para tal. Assim que viram o local pensaram que não iriam estragar essa perfeita localização. A recepção do público foi, para eles, muito calorosa, dando para sentir bastante em palco o retorno da emoção, e só foi pena algum feedback registado durante algumas canções mais emotivas, o que estragou só um pouco o ambiente. Mas ficaram muito satisfeitos com um público tão atento e apoiante. Às vezes problemas acontecem com audiências que falam bastante e desrespeitam as atmosferas intimistas das suas canções, mas nessa tarde tiveram um público com uma atitude perfeita.
Conversa também perfeita que chegou ao fim com os ROMA AMOR, a quem só nos resta agradecer sinceramente por uma presença inesquecível neste Entremuralhas 2013.

NAEVUS @ Palco Alma - Castelo de Leiria
Entrevista de Lloyd James para o Café Europa
Depois de um concerto dos NAEVUS que nos revelou o quanto uma banda já com quinze anos de intensa actividade pode sempre progredir e afastar-se da confortável estagnação, mostrando uma impressionante energia renovada em palco, foi tempo de regressar à varanda dos Paços Novos do Castelo de Leiria, já o serão ia adiantado, sabendo que estávamos a perder o que restava da nobre prestação do veterano coletivo alemão QNTAL e que provavelmente pouco nos restaria também dos SOROR DOLOROSA, o combo de Andy Julia, com quem já conversáramos no ano passado enquanto percussionista dos Dernière Volonté.
LLOYD JAMES figura central dos NAEVUS, receptivo e animado de um grande espírito de profissionalismo, concedeu-nos prontamente uma boa meia hora para conversarmos sobre o que se passou com os NAEVUS, desde a última vez que os víramos, já no distante 2004, na Quinta da Regaleira, na companhia dos Knifeladder de John Murphy e Hunter Barr, este último de volta ao convívio dos NAEVUS neste EM’13.
E foi exatamente sobre o demolidor concerto desta noite de 25 de Agosto que avançámos a primeira pergunta. Lloyd responde que gostou muito, até porque era um concerto muito importante para os NAEVUS; a banda mudou muito nos tempos recentes, e mesmo com Hunter Barr ainda nas hostes, desde que voltou em 2009, registou-se também o regresso de Ben McLees, que trocou a guitarra pelo baixo, e a estreia ao vivo do novo guitarrista Sam Astley; LLOYD JAMES está muito satisfeito com o som conseguido presentemente pela banda, para além do ambiente fantástico proporcionado pelo Castelo, portanto não poderia estar mais contente, sendo esta também a primeira vez que estava em Leiria e dentro do seu ex-libris histórico.
Estando os NAEVUS a celebrar quinze anos de existência, o novo álbum de originais “The Division Of Labour” tem um título subtil que soa literalmente a uma dica política - o que está por detrás de tal título?
Na realidade, o título não tem um significado particular – é apenas uma frase que ficou na minha mente, obviamente sem qualquer significado político; estava mais a pensar no que aconteceu à banda…até porque inicialmente foi planeado como um álbum a solo com esse título – queria que estivesse dividido em duas partes, uma com instrumentais mais ou menos longos e outra com temas mais curtos, mas as coisas foram mudando e tornou-se num álbum dos NAEVUS. Algumas das canções são bastante tristes, refletem um olhar sobre o mundo e para mim, o conceito de “The Division Of Labour”, para mim, enquanto pessoa britânica, sugere o tipo de desilusão com o que aconteceu ao partido trabalhista depois de 1997, porque para mim a minha política resume-se ao que aconteceu com esse partido por volta dessa época, chegando finalmente ao poder, derrubando os Tories, pela primeira vez de que me lembrava, pelo menos na minha memória enquanto jovem adulto, e depois tudo ficou porreiro durante algum tempo, depois lentamente as coisas deixaram de funcionar tão bem e “The Division Of Labour” pode reflectir o facto de os Trabalhistas se terem dividido em duas coisas…
Portanto não sentem muitas saudades de Tony Blair?
“De certo modo, não – obviamente ele mentiu-nos a todos; mas por outro lado, regressando ao ano de 97, começou uma nova era de esperança na Grã-Bretanha, com a sua chegada ao poder, e eu como outros sentimos pouco depois alguns benefícios, mas infelizmente, pouco depois, tudo voltou para trás.”
E não haverá uma nova divisão do trabalho dentro dos NAEVUS com a chegada deste novo line-up?
“Talvez, só que no álbum ainda só lá estou eu! (risos) Não há mais ninguém a trabalhar comigo, na gravação do álbum; é claro que escrevi algumas das canções com outras pessoas – há uma canção que escrevi com o Hunter e o Ben, doutro projeto que tínhamos chamado Man-Eat-Man-Eat-Man, há outra canção que foi originalmente escrita para uma colaboração com os Mushroom’s Patience, outras duas que foram planeadas para uma colaboração com uma banda eletrónica francesa, portanto é um bocado uma mistura…”.
Perguntamos então se chegou mesmo a trabalhar com os elementos dos italianos Mushroom’s Patience;
“Na realidade nunca cheguei a tocar com eles, mas contribuí com vocais para uma faixa deles, mas como não chegou a ser lançada, acabei por lançar primeiro a minha versão do tema (risos)…
Não será muito fácil trabalhar com os Mushroom’s Patience, dada a peculiaridade do seu som… Lloyd discorda e afirma “ser um grande fã dos italianos e seguir os seus lançamentos há alguns anos; e grupos como os Mushroom’s Patience e NovySvet motivaram-nos com grande inspiração.” Rafaelle Cerrone, o mentor dos Mushroom’s Patience, é, na sua opinião, praticamente um génio, para além de ser um músico a sério, é um pintor incrivelmente talentoso.
O uso da linguagem, com todas as suas convoluções, tem sido uma marca de água para as líricas dos NAEVUS – na nossa ótica, por vezes, uma mistura de sarcasmo a sangue-frio, por outras uma honestidade incansável, assim como uma rara capacidade para introspecção, através duma apta compreensão das realidades psico-sociais; achas que perspectivas como a vossa estão a ficar cada vez mais raras nas bandas britânicas? Será que ser ou soar sério é hoje em dia algo a evitar na cena musical britânica?
“Duma forma geral não são muitas as bandas britânicas a prestar atenção às líricas que escrevem, havendo no entanto algumas excepções, como por exemplo os Radio Silence, que é o projeto pessoal do nosso guitarrista/baixista Ben McLees, que tem talvez das mais brutalmente honestas letras que alguma vez ouvi, realmente cruas e emocionalmente sinceras. Mas não creio que as minhas caibam nessa categoria – não são assim tão sérias e até acho que algumas são um bocado patetas. Não que o sejam no seu valor, mas na forma como as palavras se ligam, por vezes criam combinações meio idiotas, palavras que parecem não fazer sentido quando se juntam. Portanto de uma forma geral, não me lembro de nenhuma outra banda que faça as coisas assim, mas também não me ligo muito a outras bandas, para além daquelas com as quais normalmente me associo na Grã-Bretanha e que levem as suas líricas muito a sério. Há de certo influências para trás, penso que algumas das coisas que estudei no passado me influenciaram, algo na linguagem que me faz parecer bastante destacado, isolado, desapaixonado, mas na generalidade não passam de alinhamentos de coisas que escrevo ocasionalmente e que junto na forma de líricas, numa história.” Observamos nós que de uma forma bem ponderada… “Espero que sim! Qualquer coisa que eu ache que não funciona é imediatamente deitada no lixo! (risos)”.
Parece haver consenso crítico à volta do facto de que os NAEVUS são de certo modo porta-estandartes do legado indie britânico dos anos 80, sem nunca soarem “retro” ou abertamente nostálgicos. Como é que se consideram?
“Não sei … na realidade eu não diria anos 80 mas talvez do final dos anos 70! (risos)” – Concordamos inteiramente! – “Quer dizer, quase todas as bandas foram para mim tremendamente influenciadoras; provavelmente os melhores trabalhos entre 78 e 82 – e tenho de ser honesto, é o período musical que mais me influenciou - bandas como os Magazine, PIL, os Cure iniciais(Nota do editor – “How I understand you, Lloyd!” - esta ideia faz-me lembrar uns versos de “Slip Away” do Bowie, em “Heathen” (2002): “down in space it’s always 1982, the joke we always knew…what’s the matter with you? Come on let’s go…slip away…”).
Algumas referências na web dizem que finalizaste o trabalho em “The Division of Labour”, num esforço solo, aliás como acabaste de confirmar; temos de admitir que não tomámos consciência das partidas de Joanne e Greg Ferrari e de que até mesmo a colaboração on-off de John Murphy estava de novo “off”; presentemente tens um line-up novinho em folha. Podes esclarecer-nos sobre a versão final das mudanças?
“Tudo aconteceu muito naturalmente, quer dizer, com o John, tocámos recentemente em Itália, mas aspectos da sua vida pessoal condicionaram-no, agora, a permanecer basicamente na Europa continental, outros acontecimentos na vida de Joanne que a levaram a pôr a música um pouco de parte e o mesmo para o Greg, cujo trabalho principal de momento acabou por tomar conta da sua vida. Portanto tudo aconteceu muito naturalmente com esse line up em particular, para que chegasse ao fim. De resto, temos estado a tocar de novo com o Hunter Barr dos Knifeladder desde 2008 ou 09, e antes já ele tinha tocado connosco em 2003 e 04, e o Bem McLees já está na banda desde 2008, por isso, mesmo que pareça ser um novo line-up, é na realidade um pequeno núcleo de pessoas que já colaboram com os NAEVUS há já algum tempo e em diferentes pontos do passado, e no caso do Hunter, há muito tempo. Portanto, eu não o sinto como uma coisa completamente nova, há sem dúvida uma continuidade com as pessoas que toquei previamente.” Quer isso dizer que a estabilidade interna da banda não é uma prioridade, ter um staff fixo e permanente…? “Seria bom mas, sabes como é, não se pode controlar o que se passa na vida de uma pessoa, está sempre tudo a mudar, … a banda esta noite soou muito bem e espero que este line-up continue por algum tempo…”
Voltando ao que dissemos há pouco, neste novo álbum, os Naevus soam diferentes; a dureza já não está tanto à superfície mas está diluída na profundidade de algumas das canções – de resto quase todas as canções soam mais profundas neste “The Division Of Labour” – será este o teu disco mais pessoal? Qual foi a fonte principal de inspiração que usaste, tendo em linha de conta que não é um álbum conceptual?
“Sim, de facto é, de todo, tudo e qualquer outra coisa menos um álbum conceptual, tendo em conta o que fizemos antes – as canções foram escritas em tempos diferentes, todas com fontes completamente díspares e, na realidade, quando comecei a montar o álbum fiquei um pouco surpreendido por ver um certo tipo de temas comuns, dos quais não tinha tido noção até o disco estar acabado. (risos) Mas há de facto temas comuns, embora seja uma construção peça a peça, uma canção escrita com o Rafaelle (Cerrone, Mushroom’s Patience), outra com o Hunter Barr, outra com o Ben, outras ainda delineadas anos antes para outros projetos paralelos, e quando as reuni, foi muito interessante porque me apercebi de que tendiam a ser temas mais fortes do que quando eu escrevo para mim, quando são para outros projetos com outras pessoas - percebes o que quero dizer? Portanto, quis fazer com que tudo isso encaixasse num só bloco, e daí que tenho resultado no álbum mais a La NAEVUS até ao presente.
Há um quarteto de canções que, paralelamente às que soam mais envolventes, parecem, no mínimo mais oblíquas, nomeadamente “Bleat Beep”; “Idiots, Let Me In”; “Hobbo Placing” e “Chalk is Valuable”; é esse o outro lado da música dos NAEVUS do qual não queres abrir mão?
“Três dessas canções são de facto muito diferentes – “Idiots” foi escrita para os NAEVUS, e é uma canção muito simples, apenas puro divertimento, e “Bleat Beep” será talvez mais pessoal, um pouco louca em termos de música porque é muito…pelo menos eu sinto-a como uma expressão de como o meu cérebro funciona, é uma estrutura muito pouco usual (risos) e encontrei a fórmula do “Bleat Beep” que sempre gostei de enquadrar numa canção, e tornou-se numa das minhas favoritas” … Hobo Placing” é realmente forte! “Oh, obrigado! Mas essa foi escrita inicialmente para uma banda francesa Propergolli Collergol , mas com uma música diferente – (nota do editor : não confundir estes com os velhos Industriais Propergol) “sim estes são um grupo diferente, e que vão em muitas direcções diferentes, mas são um grupo francês muito interessante, que me pediram para fazer uns vocais para uns temas há já alguns anos, e algum tempo depois fiz as minhas próprias versões. Era música diferente mas com as líricas que tinha escrito para eles. Mas o arranjo original foi-se gradualmente inserindo no live set de um outro meu projecto, os Retarder, que tem material mais abstracto … originalmente “Hobo Placing” pertencia aos Retarder, mas acabou por passar para os NAEVUS. E o “Chalk is Valuable” também veio dos Retarder, mas era uma versão acústica.”
Lidando com as mudanças internas, nunca foste pessoa de recusar colaborações de colegas igualmente talentosos; ao cabo de mais de uma década, tanto os NAEVUS como o próprio LLOYD JAMES foram bem-sucedidos em bastantes aventuras conjuntas; que tipo de impacto achas que tudo isso causou no teu público, nos teus fãs, dividindo o teu trabalho por outros projetos?
“Não sei que impacto terei tido nos fãs, porque não tenho muita consciência deles (risos)…” – bom, talvez junto dos amigos… - ”Sim, talvez os meus maiores fãs sejam os meus amigos mais próximos, sim,… mas não penso que seja assim mesmo, quer dizer, apenas gosto de fazer música com outras pessoas; para além de cantar e tocar as minhas próprias canções, adoro tocar bateria, tambores, e por isso toco bateria nalgumas bandas porque é uma das coisas que gosto mesmo de fazer, é muito agradável tocar com outras pessoas, na generalidade, sim, com os amigos…recentemente fiz vocais para os Kirlian Camera, Der Blutharsch, David E Williams, … “ – para “O” David E Williams? …”…o David é meu amigo e eu contribuí com alguns vocais para o seu último álbum, e também tocámos ao vivo juntos algumas vezes, no passado. Pessoalmente, acho que o David E Williams é fantástico, é um dos melhores escritores de canções por aí, quer dizer, de sempre. Sou um grande fã dele…” – E nós também!
Sendo esta a terceira vez que tocam em Portugal, desde a data de 2004 em Sintra com os Knifeladder, e depois anos mais tarde com Rose McDowall, e agora sendo uma das estrelas de cartaz do Entremuralhas de 2013, que tipo de retorno tens tido do público português? Tens alguma ideia de como estás aqui em Portugal em matéria de vendas de discos? A Equilibrium Music continua a ser praticamente a vendedora exclusiva dos vossos trabalhos…
“Para ser honesto, em termos de vendas de discos, não faço mesmo a mínima ideia… Não, não recebo relatórios…bem, às vezes, mas não são muito detalhados, (risos), quero dizer, já me encontrei com o pessoal da Equilibrium, que são rapaziada impecável, têm vendido bem o nosso material e fico-lhes muito agradecido por isso, mas penso que o fazem através de outra distribuidora, portanto, lamento mas não sigo os pormenores e não tenho uma ideia precisa de como é que as coisas se estão processar nesse campo.”
Estás de algum modo a par de alguns dos grupos portugueses que cruzam caminhos semelhantes aos vossos?
“Talvez o mais próximo de que me tenha dado conta foi quando em 2003 foi lançado um tributo a Scott Walker, (Angel of Ashes) e lembro-me de ter conhecido alguns grupos vossos excelentes, mas quando penso numa banda dessas, navegando numa área semelhante à nossa, não me consigo lembrar de nenhum nome…” – Mas como tens amigos próximos aqui em Portugal, talvez eles te tivessem enviado amostras do que se vai fazendo por aqui…” Talvez no passado mas tenho uma péssima memória para isso…(risos)…não lembro mesmo…(risos)”.
Acabámos de ser informados do lançamento de “Stations”, uma compilação de material vosso, muito promissora, com raridades, temas perdidos em compilações, colaborações, canções que só apareceram em outras antologias prévias; e como se não bastasse, as primeiras 100 cópias terão um álbum de bónus com covers de clássicos, vossos favoritos, para além de alguns dos vossos cavalos de batalha do passado. O Natal já chegou e não reparámos?
“Foi uma coisa que andámos a planear durante anos e anos, foi uma coisa que sempre quis, porque também sou um colecionador de discos, não tanto no sentido de caçar raridades mas mais de completar as obras integrais, e sempre quis oferecer uma edição que reunisse todas as gravações que já estão fora de prensagem, portanto se adquirirem estes dois últimos lançamentos dos NAEVUS ficam com TUDO! (risos)”.
Uma última pergunta – o que pensam deste festival e do local?
“É um local fascinante – já tirei imensas fotografias - e este festival tem sido mesmo fantástico, com uma atmosfera fantástica; ainda agora vim lá de baixo, com o resto da banda, basicamente estivemos a saborear a alegria e a atmosfera, o ambiente notável conseguido … chegámos ontem à noite e infelizmente não tivemos grande oportunidade de ver as bandas que tocaram ontem, estava à espera de ainda vir a tempo de apanhar o Simone e os SPIRITUAL FRONT, mas infelizmente já tinham tocado; consegui vê-lo ao pequeno-almoço esta manhã, mas foi só, e é uma pena que não os tenha visto porque eles são uma banda fenomenal. Sim, mas o resto do festival tive oportunidade de acompanhar, especialmente os ROMA AMOR, estiveram grandes na capela, outro local fantástico…”.
Mais algum recado que queiras deixar aos nossos ouvintes?
“Obrigado pela vossa entrevista e obrigado a todos aqui que nos possibilitaram tocar, e só dizer que é ótimo estar de novo em Portugal! Espero conseguir comer amanhã um bom prato de peixe! (risos)”
Foi esta mais outra animada conversa com um dos quatro intervenientes no Entremuralhas 2013, escolhidos pela equipa do Café Europa para ilustrarem a nossa cobertura do evento, LLOYD JAMES dos ingleses NAEVUS, um bom observador “bon-vivant”, dos dias que correm nesta nossa velha Europa.


QNTAL @ Palco Alma - Castelo de Leiria
O Palco Alma fechou para o EM’13 com o regresso dos QNTAL.
Embora com alguns problemas com o som devido ao grande número de instrumentos usados, não deixou de ser um momento marcante deste festival. Se as sonoridades góticas estão deveras marcadas no denominado rock gótico, é sem dúvida em bandas com os QNTAL que a denominação não se ajuste no enquadramento histórico do movimento.
Foi um desfilar de histórias ancestrais, com epicentro na idade média, fazendo recuar todos os presentes àquela era, a qual dado a envolvente não poderia ser a mais adequada.
 A conjugação da electrónica com os sons medievais, associada à teatralidade de Michael Popp e Sigrid Hausen não deixa ninguém indiferente. O casal mentor do projecto mostrou-se bastante comunicativo, contando histórias entre as músicas, criando forte ligação com o público. O theremin de Michael Popp e o violino da bela Mariko marcaram logo a abertura do concerto no tema “Translucida”. Mas foi um desfilar de uma dezena de temas que pareceram poucos para quem assistiu. Infelizmente nós só assistimos a metade pois Lloyd James esperava-nos para a entrevista.

Ficámos a aguardar por outra oportunidade para rever os místicos QNTAL.

SOROR DOLOROSA @ Palco Corpo - Castelo de Leiria
A invasão francesa estava agendada para o final do EM’13 e o local foi o Palco Corpo.
Na frente vieram os SOROR DOLOROSA comandados pelo general Andy Júlia, um autentico rocker a lembrar figuras míticas como Iggy Pop, Jim Morrison ou Ian Astbury.
Na bagagem (e na banca do merchandise) traziam o novo álbum “No More Heroes”, no entanto, daquele palco só transpirava recordações e invocações de heróis. Aos primeiros três temas “Hologram”, “A Dead Yesterday”,  e “43º”, aqueles em que a presença dos fotógrafos era massiva à frente do palco, Andy de fato de couro aberto, mostrou saber todas as poses com que os seus heróis ficaram registados para a imortalidade. Depois tirou o blusão e, em tronco nú lembrando Iggy Pop e bebendo vodka como Jim Morrison, tornou-se ele o herói, com diversos piropos a ele dirigidos, vindo da parte do público feminino.
Os restantes membros ofuscados pelos fumos, foram extremamente competentes mas meros figurantes face ao vedetismo de Júlia, que nem com a falha de microfone durante o tema “Silversquare” se atrapalhou, mantendo uma pose irrepreensível em palco.

Andy Júlia sem dúvida um novo herói.

KAP BAMBINO @ Palco Corpo - Castelo de Leiria
E o fim do EM’13 chegou, e quem o trouxe foi, talvez, a escolha mais polémica das, até agora, quatro edições do Entremuralhas. A dupla francesa que dá pelo nome de KAP BAMBINO não tinha agradado aos góticos mais indefectíveis, mas o que esses simplesmente desconheciam era as prestações ao vivo dos KAP BAMBINO, e em particular essa força viva que é a pequena Caroline Martial.

Desde os primeiros momentos assistimos e participámos dum ritual intenso tendo como mote a electrónica agressiva e a voz, os gritos, os guinchos, o que quer que lhe queiram chamar aquilo que saia da boca de Caroline, que não parou nunca durante todo o concerto, saltando, dançando, quer no palco quer conjuntamente com o público, que também, por muito que quisesse não conseguia estar quieto, participando no ritual dançável.
Foi uma hora de concerto que os resistentes que souberam esperar por aquele momento não esqueceram nunca. Pode-se não apreciar muito as suas gravações mas em concerto … bem … são fenomenais. Boa escolha FADEIN um final arrebatador.

MURALHARTES @ Castelo de Leiria 
Por último há que salientar que o Entremuralhas não é só música.
Paralelamente ao concerto tivemos, no castelo, uma exposição permanente denominada de MURALHARTES, De onde realçou a peça estrategicamente colocada na parede de fronte á entrada da igreja da pena, a escultura Fénix de Ana Costa, uma mulher nua manchada de sangue que saltava de imediato à vista de quem lá entrava e que, segundo parece ali irá permanecer. Além disso tivemos a habitual projecção de filme sobre a parede da Torre de Menagem, que infelizmente não tem muita adesão, porque simplesmente passam á mesma hora dos concertos, logo, difícil será trocar os concertos pelos filmes. Os filmes escolhidos deste ano foram Frankenstein um filme de 1931 realizado por James Whale e O Fantasma da Ópera de 1925 com realização de Rupert Julian.

E assim chegamos ao fim desta nossa reportagem ao EM’13, deixando, desde já um agradecimento aos artistas pelas entrevistas concedidas, à magnífica equipa da FADEIN, com um abraço particular ao Carlos Matos, quer pela imaculável organização quer pelas facilidades que nos foram concedidas, e obrigado a todos vós pela dedicação ao Café Europa.
Resta-nos esperar que no ano que vem, o Entremuralhas nos continue a surpreender como este ano.
Já falta menos de um ano …
Texto: JCS e AF
Photos:AF