quarta-feira, 28 de março de 2012

Café Europa: Emissão #15, de 26-03-2012

1.ª Hora      ß clicar aqui para download

1.      SCOTT WALKER “Angels of Ashes” GB
2.      SCOTT WALKER ”Farmer In The City” GB
3.      SCOTT WALKER ”A Lover Loves” GB
4.      MARC ALMOND - “Boulevard of Magadan” GB
5.      ATARAXIA ”Longtemps Pierrette D'Orient” IT
6.      VON MAGNET ”Into The Breach” FR
7.      LARSEN w. LITTLE ANNIE Lefrak City Limits” IT/USA
8.      DIAMANDA GALAS ”Heaven Have Mercy” GR/USA
9.      TERESA STRATAS ”Und Was Bekam Des Soldaten Weib?” GR/CAN
10.  BABY DEE “The Pie Song” USA
11.  PHILIP GLASS “Lightning” USA
12.  SIEBEN “Shake The Tree” GB

2.ª Hora      ß clicar aqui para download

1.      ROME “All For Naught ” LUX
2.      CHANGES ”We Went To Find The Sun” USA
3.      SEELENTHRON ”Leben” DE
4.      SOLANECEAE - “Sorrow And Its Companions” DIN
5.      CONCRESCENCE ”To A Forgotten Queen” DE
6.      OF THE WAND AND THE MOON ”Tear It Apart” DIN
7.      OSTARA ”Sword Of Reverie” GB
8.      UNTO ASHES ”One World One Sky” USA
9.      GAË BOLG Brevet de Reminiscence PerpetuelleFR
10.  KUTNA HORA ”Circles” ARG
11.  TRIORE (TRIARII & ORDO ROSARIUS EQUILIBRIO “Pleasures & Tortures” DE/SUE
12.  LA CHANSON NOIRE ”Cabaret Portugal” PT
13.  BACKWORLD “Angels Of Ashes” GB
Larsen w. Little Annie

Von Magnet

La Chanson Noire

(Photos by Ângelo Fernandes)

terça-feira, 20 de março de 2012

Café Europa: Emissão #14, de 19-03-2012

1.ª Hora   <-- clicar aqui para efectuar o download
Destaque para Camerata Mediolanense "99 Altri Perfecti"
01.       NICO “Afraid” DE/USA     
02.       RAJNA “Offering” FR        
03.       ARTESIA “Wanderings” FR
04.       LES MARIE MORGANE “Entrelacs” FR
05.    RECONDITA STIRPE “Caduti” IT
06.       IANVA “La Ballata Dell'Ardito” IT
07.    CAMERATA MEDIOLANENSE “Madrigale” IT
08.    CAMERATA MEDIOLANENSE “Fragmentum Primum” IT
09.    CAMERATA MEDIOLANENSE “99 Altri Perfecti” IT
10.    CAMERATA MEDIOLANENSE “Il Lupo” IT
11.    CAMERATA MEDIOLANENSE “Vago Augeletto” IT
12.    ATARAXIA “Siqillat” IT
13.    THE MOON AND THE NIGHTSPIRIT “Oregerdo” HU

2.ª Hora  <-- clicar aqui para efectuar o download  
Destaque para Triarii "Exile"

01.       ROSE McDOWELL AND JOHN CONTRERAS “Afraid” GB
02.       CAFÉ DE L’ENFER “A Six Mille Milles” AT
03.       DAWN AND DUSK ENTWINED “A L’Aube des Jours Anciens” FR
04.       TRIARII “Monstranz” DE   
05.    TRIARII “Emperor Of The Sun” DE
06.       TRIARII “Exile” DE
07.    DERNIERE VOLONTE “Ne Te Retourne Pas” FR
08.    VARUNNA “Ferro e Ruggine” IT
09.       TRIARII “Iron Fields” DE
10.       TRIARII “Stadt Der Jugend” DE
11.       TRIARII “Heimkehr” DE
12.    SOPOR AETERNUS & ENSEMBLE OF SHADOWS “One Day My Prince Will Come” DE
13.    ANTONY AND THE JOHNSONS “Afraid (live at the Midnight Rotterdam 2005” USA

John Contreras

(Photo by Ângelo Fernandes)

Café Europa apresenta: Triarii "Exile"

TRIARII – “Exile”
CD / Eternal Soul, 2011
 

Os TRIARII são alemães e recebem o nome com base na elite de soldados que constituía a última linha de defesa numa legião romana, manobrando o pilo como ninguém. Bom, com esta linhagem, estes alemães parecem passar-se antes para o campo inimigo do que seguir a tradição hirsuta dos bárbaros Germanos. É tudo uma questão de civilização, uma questão de primazia e – diga-se – elitismo imperial. Qualquer semelhança com o presente estado de coisas já começa a soar a subversão europeia. Piadas à parte, este Exile, 4º trabalho dos TRIARII, não só traz mais daquilo que os eleitos gostam, como comprova como nunca antes as ambições imperiais de uma certa facção germânica na música industrial-militar.
Mas façamos um sumário da actividade discográfica do projecto que afinal não passa de outra “one man’s band”.
Surgidos na leva germânica de 2004, em que de repente nomes como Feindflug, Wappenbund ou Kreuzweg Ost, só para citar alguns deste anschluss musical, tomavam de assalto algumas ondas ainda hertzianas, os TRIARII marcaram presença com um cartão-de-visita duplo para as futuras sonoridades bélicas, materializado pelos EP’s “Triumph” e “Imperium”.
Com semelhante ataque, a destreza algo repetitiva mas heróica dos TRIARII concretizou-se em pleno no lendário álbum de estreia “Ars Militaria”, onde reinavam doze faixas do mais puro militar-pop por excelência, com camadas e camadas de toque de caixa e cordas orquestrais épicas, a dar corpo às várias e contagiantes marchas e fanfarras, aqui e além pontuadas por vozes históricas e breaks com mais noise.
Em Maio de 2006 sai “Pièce Héroique”, no qual TRIARII se mantém marchando nos trilhos do militarismo épico, talvez só um pouco mais dançável em momentos, assegurando a sua posição no pavilhão marcial-pop, combinando temas bombásticos e neo-clássicos, curiosamente mais tarde reeditados com remasterização de In Slaughter Natives, o que dificilmente passaria por uma certificação de “dança”. 2008 é o ano de “Muse in Arms”, em que Christian Erdmann, nome do mentor central do projecto, eleva a fasquia militarista mais alto, soando como vento seco de Inverno sobre a chama da Tradição Europeia para melhor a reatear. Sons de maquinaria e construção sugerem a antecâmara do teatro bélico, e acentuam a tal tendência imperial que já se adivinhava nos primeiros movimentos. Esse evidente equilíbrio musical começa a dar rosto às influências principais que se revelam como mais suecas que germânicas. É só adicionar ao rigor dos Arditi a elegância perversa dos Ordo Rosarius Equilibrio antigos, espalhando bem o preparado de base mais assustador dos referidos In Slaughter Natives, e está achada a fórmula que lhes deu génese. É o mínimo de redutibilidade com a qual podemos responder a semelhante invasão imperial, com as devidas distâncias.
De volta a este mini LP “Exile”, apercebemo-nos de que em 2011, o próprio Erdmann acusa o efeito da progressão de um modo subtil, eliminando exercícios menos estáticos, conferindo aos sete temas uma dinâmica de nexo narrativo e uma coesão musical decididamente bem tecida e orquestrada. Esse aperfeiçoamento digamos “mais certinho” faz-nos questionar a sobrevivência e manutenção deste género. Até que ponto os criadores do som militarista podem tornar o seu produto mais apelativo e por assim dizer mais normalizado pelas leis da concorrência? O cluster do eixo germano-escandinavo entrou ou não na rota da competitividade de mercado? A julgar pelas escapadas quase grind dos sueco-finlandeses Karjalan Sissit, até parece que não, mas na realidade os nomes que sobressaem do underground não aumentaram muito em número, mas na lama das trincheiras há gente impaciente, sobretudo para cá da linha Maginot. Desse modo, aparenta ser fácil aos TRIARII conquistarem mais espaço vital que ainda não é terra queimada, porque têm a seu favor os ventos do reconhecimento da equipa ganhadora que se completa com J. Hauvukainen, o homem por detrás do nome In Slaughter Natives.
Não há aqui sombra de ligeireza, nem sombra de sentido de humor corrosivo (como encontrávamos nos discos dos austríacos Kreuzweg Ost) ou mesmo de obstinação tecno, como os compatriotas Feindflug tão bem sabem fazer. A teatralidade triunfal do som em “Exile” é quase retrato fiel do estado actual da imagem projectada pela Alemanha sobre os seus congéneres europeus. Não há saída e não há soluções operacionais – apenas o triunfo ou exílio das nações. Ou tudo permanece como está, estéril e esterilizado, ou tudo cai, mesmo sem invasão bárbara às portas de uma Roma germanizada, como um castelo alto de cartas marcadas. Políticas de lado, “Exile” é, por conseguinte, um disco eficiente e até emocionante, mas desiludam-se os crentes num novo espírito europeu, que aqui fala mais alto a lei do mais forte. A guarda pretoriana da música industrial-militar não contribui para conspirações palacianas, mas seria bem-vindo que usasse mais as suas armas de vingança nos artesãos da desmobilização social e cultural da União, em mais um Inverno do nosso descontentamento europeu.
(Texto João Carlos Silva)

Café Europa apresenta: Camerata Mediolanense "99 Altri Perfecti"

Camerata Mediolanense: 99 Altri Perfecti
(CDS - My Castle, 2011, Itália)


Dizer que os milaneses Camerata Mediolanense seguem uma política de singles é um exagero, tendo em conta que a sua carreira discográfica já tem dezoito anos e durante esse longo período apenas lançaram seis, sendo um deles o 10 polegadas “L’Alfieri” e o outro o picture “Lago di Varese”, a meias com Les Joyaux de la Princesse. Pelo meio fica a trilogia “Inferno” e o recente “99 Altri Perfecti”. 
São dezoito anos apenas com três álbuns de originais, um disco ao vivo e uma compilação de excelências, palmarés que os põe lado a lado com os norte americanos Blood Axis, em matéria de uma política espartana de lançamentos e mais ainda na dimensão épica que reveste a sua razão de ser. Entre 2007 e o presente ficámos pendurados entre o encerramento da misteriosa trilogia “Inferno” e a apoteose do álbum ao vivo, “1800”, e espera-se vivamente que um pouco à semelhança com o que sucedeu também com os Blood Axis, a edição de um single como “99 Altri Perfecti” augure a entrada num período mais fértil da Camerata Mediolanense.
“99 Altri Perfecti” começa com um tema ambiental operático, com o elemento fulcral da voz magistral de Daniela Bedeski a marcar o reconhecimento imediato do território onde nos encontramos. Os dois temas seguintes são o novo alfa-omega da criação Camerata Mediolanense. Um crescendo quase pop, maquinal no seu pulsar irrepreensível em questão de riqueza melódica, agraciado pela percussão de outros guerreiros da primeira hora, Marco Colombo e Manuel Aroldi, deveras o primeiro sinal de que o grupo se pode encontrar no dealbar de uma nova renascença, sem se subjugarem a modas.
O tema de fecho é ainda mais ambiental que o primeiro, mas ambiental, na gramática da Camerata Mediolanense, significa rico em imagens, espiritual e poético, sustentado pela riqueza sonora invocada pelas maquinarias manipuladas por Trevor, elemento fundador. Toda esta coesão que só dura onze minutos é mais uma vez a confirmação de que a Camerata Mediolanense é um dos grupos europeus que vieram a constituir uma espécie de elite musical geradora de lendas. Alguns ficaram pelo caminho, de que são alto exemplo os The Moon Lay Hidden Beneath A Cloud, outros criaram nicho de tão grandes dimensões que começa a ser preocupante a sua manutenção, caso flagrante dos também italianos Ataraxia, por assim dizer banda-mãe da connection Renascentista da música moderna transalpina. Os Camerata Mediolanense conseguem através de cerca de 20 anos de resistência, um estado de maravilhosa crisálida, traduzindo bem o facto de que são dos derradeiros bastiões dessa corte europeia de tradição, de que tão bem falava Otto Rahn. Se fossem de pedra, mármore e alabastro, não chegavam…
(Texto de João Carlos Silva)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Café Europa; Emissão #13, de 05-03-2012 "Happy Birthday Mr. Tibet"

1.ª Hora  <--- link para download 
1.                 CURRENT 93 “Jerusalém” GB
2.                 CURRENT 93 “Fields of Rape” GB
3.                 CURRENT 93 “St Petter’s Keys All Bloody” GB 
4.                 NURSE WITH WOUND “Red Flipper” GB
5.                 COIL “Fire of Mind“ GB
6.                 CURRENT 93 “Imperium I” GB
7.                 CURRENT 93 “Oh Coal Black Smith” GB
8.                 CURRENT 93 “Black Flowers Please” GB
9.                 DEATH IN JUNE   “Last Farewell” GB
10.             FIRE + ICE “Where Have They Gone?” GB
11.             SOL INVICTUS “Kneel To The Cross” GB
12.             SORROW “Let There Be Thorns” GB
13.             CURRENT 93 “Time Tryeth Truth” GB

2.ª Hora   <--- link para download
1.                 CURRENT 93 “When The May Rain Comes” GB
2.                 CURRENT 93 “Let Us Go To The Rose” GB
3.                 NATURE AND ORGANISATION “Wicker Man Song” GB 
4.                 CURRENT 93 “Lucifer Over London GB
5.                 CURRENT 93 “All the Pretty Little Horses “ GB
6.                 CURRENT 93 “It’ is Time, Only Time” GB
7.                 ANTONY AND THE JOHNSONS “The Lake” USA
8.                 CURRENT 93 “Idumaea (vocals by Antony)” GB
9.                 CURRENT 93 “Idumaea (vocals by Marc Almond)” GB
10.             CURRENT 93 “26 April 2007” GB
11.             CURRENT 93 “With Flowers In The Garden of Fires GB
12.             CURRENT 93 “Honeysuckles” GB
13.       SIMON FINN  “Jerusalém” GB

David Tibet
















A emissão 13 do Café Europa da R@dioás, do passado dia 05 de Março, foi inteiramente dedicada ao universo de David Tibet, e dos Current 93, dada a celebração do aniversário de Tibet nesse dia e porque em 2012 os Current 93 perfazem três décadas de existência.
Nascido na Malasia a 5 de Março de 1960, onde viveu até aos catorze anos, David Michael Bunting Tibet, desde cedo demonstrou o seu interesse por Aleister Crowley, o qual o levou a ser o membro mais novo da OTO (Ordo Templi Orientis) uma organização ocultista, fundada nos finais do século XIX, e que Crowley refundou em 1925. Foi à literatura de Crowley e ao seu Livro da Lei que Tibet foi buscar o nome de Current 93 para a banda que em 1982 formou com John Balance (malogrado membro dos Coil) e Fritz Haaman (membro dos saudosos 23 Skidoo). Todavia, rapidamente este passou a ser um projecto pessoal de David Tibet, funcionando, ao longo destas três, em torno de um círculo mutante de vários colaboradores.

Os primeiros trabalhos dos Current 93 (C93) encontravam-se impregnados de influências dos sons experimentais e industriais que os Throbling Gristle tinham trazido para essa nova corrente musical foram álbuns como, “Nature Unveilled”, “Dogs Blood Rising”, “In Mentrual Night” ou “Live at Bar Maldoror”, onde a participação de John Balance, John Murphy, de Steven Stepleton, dos Nurse With Wound ou Douglas P dos Death in June.  Foi um período deveras importante para a formação musical de todos eles, com colaborações recíprocas entre os projectos individuais de cada um.
Em 1986, Tibet e a sua trupe, fazendo jus ao seu nome, refugiam-se numa estância no Nepal, onde gravam o seu primeiro álbum conceptual "In Menstrual Night" no qual aborda como temas a Lua, a Menstrução e Cristo.
Nesse mesmo ano, Tibet baptiza o estilo da sua música experimental e ácida como “Apocalyptic folk”.
É após esta estadia no seu país de homónimo que Tibet começa a centralizar os seus interesses para a religião quer para o budismo tibetano quer para o misticismo cristão tendo como principais fontes inspiradoras os Evangelhos oficiais e os apócrifos e o Livro do Apocalipse. Toda a sua música nos finais dos anos ‘80 e toda a década de ’90 é impregnada desse espírito cristão e apocalíptico. Torna-se um verdadeiro devoto de Cristo de que diz ser a única manifestação de Deus no nosso mundo, assim como crê estarmos a viver aquilo que os escritos sagrados denominam de “últimos dias”e que têm surgido pequenos anti-cristos até ao aparecimento do verdadeiro que nos conduzirá ao último dia.
É nesta fase, finais dos anos ’80, que os C93 editam canções que são autênticas obras-primas, dispersas por uns quantos álbuns também eles peças de arte inigualável. Em ’87 vêm a luz do dia “Dawn” e “Imperium”, este um disco de uma beleza plácida e mística intemporal, e que seriam porta de entrada para um novo mundo maravilhoso que viria em ‘88 com dois álbuns incomparáveis e incontornáveis quando falámos não só da história dos C93, mas também da música europeia contemporânea, que são “Swastikas for Noddy” e “Earth Covers Earth”.
De “Swastikas for Noddy”, pode-se dizer ser o disco mais responsável pelo surgimento de mil e uma bandas de “apocalyptic folk” nos últimos 25 anos. Gravado entre Londres e Reiquiavique, carrega em si o código genético de folk que Tibet tinha ensaiado um ano antes com o seu camarada de então Douglas Pearce, juntos nos Death in June de “The Wörld Thät Sümmer” - a sequência cronológica entre os dois discos é flagrante e talvez mais significativa que a continuidade dada à própria discografia C93, que no ano anterior tinha brindado os seus fiéis com “Imperium”.
Ian Read (Fire + Ice)
É neste álbum que a colaboração Tibet-Douglas P.- Rose McDowall - Ian Read - Boyd Rice, entre outros, amadureceu, ao ponto de se terem tornado numa espécie de nova “family” semi-mansoniana (uma alusão que de graciosa passou a gratuita, trazendo-lhes quase sempre problemas com a vizinhança...).

Em ‘87, a guitarra acústica de Douglas dominava a maioria das canções incluídas, por vezes repetitivas e algo atabalhoadas, outras demasiado crípticas, mesmo para os que se achavam entendidos na matéria. “Panzer Rune” e “Beausoleil” eram as longas provas de fogo, mas o incrível apelo de “Oh Coal Blacksmith”, “Black Flowers Please”, “Scarlet Woman”, “The Final Church of the Noddy Apocalypse” ou “The Stair Song” estabelecia os C93 como sátiros trovadores de tempos vindouros, infelizmente sob um céu carregado de incertezas. Para animar lá estavam duas “covers” irresistíveis – “This ain’t the summer of love”, dos Blue Öyster Cult, e “Since Yesterday” das lendárias Strawberry Switchblade de Rose McDowall.
“Swastikas for Noddy”, foi reeditado nos anos 90, mas viu o seu nome alterado para “Swatikas for Goddy” devido à pressão do grupo editorial de Enïd Blyton, até porque a maioria dos distribuidores sempre olhou de soslaio aquele título, ignorando os trocadilhos humorísticos implícitos, “Swastikas for Noddy” vai permanecer na história da música popular como a acta do 1º grande simpósio de autodidactas neo-folk tornado manual de bolso dos agitadores de consciências numa futura Europa “unida-à-força”. E depois, aquele refrão cantado com dilacerante abandono nostálgico: “E enquanto nos sentamos aqui, sozinhos, à Procura de Razões para Continuar – torna-se claro que tudo o que Agora Temos são os nossos pensamentos d’Outrora ...”.
Com a criação da sua própria editora “Durtro”, Tibet inicia um período bastante produtivo que começou com “Thunder Perfect Mind" e "Of Ruine Or Some Blazing Starre", trabalhos mais orgânicos e acústicos que o som pós industrial que caracterizou as suas primeiras edições.

Do primeiro, temas como “A Beginning”, “A Silence Song”; “A Lament for My Suzanne”, “A Sadness Song”, “A Song For Douglas Afer He’s Dead” ou “When the May Rain Comes” são demonstrativas da importância que um novo elemento começa a ter no colectivo C93. Michael Cashmore, um dos guitarristas mais talentosos e influentes da actualidade, que, com Tibet, constrói um mundo sonoro alucinatório que marcarão a discografia da transição do milénio.
Na segunda metade dos anos 90 vê luz a triologia "The Inmost Light: Where the Long Shadows Fall, All the Pretty Little Horses e The Starres Are Marching Home", que, conjuntamente a todas as influências e obsessões de Tibet, contem parte das suas melhores letras e conta entre convidados com Shirley Collins e Nick Cave, que dá a voz a “All the Pretty Little Horses”.

Os trabalhos que encerram o milénio voltam a mostrar a influência de Cashmore no trabalho dos C93. São duas obras-primas, "Soft Black Stars" (apenas a piano e voz) e "Sleep Has His House" (que Tibet dedica ao seu pai). Estes dois álbuns apresentam uns C93 mais pessoais e reflectivos, abandonando o surrealismo cósmico e proclamando a sua devoção religiosa, bem como a suas obsessões: o artista Louis Wain, o novo testamento grego e o poeta Count Stenbock.
É, também desta altura o inicio da colaboração de Antony Hegart com Tibet que culminaria com a edição em 2000 do seu álbum homónimo através do selo Durtro e que o levou a pisar pela primeira vez solo nacional nos celebres concertos em 2003 no Teatro Ibérico.

A celebração do 46.º aniversário (2006) de Tibet marcou a edição de "Black Ships Ate the Sky", um álbum conceptual, marcado pelas interpretações vocais do poema de Charles Wesley “Idumea”, de diversos convidados entre os quais Anthony, Marc Almond, Bonnie ‘Prince’Billy, Baby Dee, Shirley Collins, Cosey Fanni Tutti ou Pantaleimon.

James Blackshow
“Aleph of Hallucinatory Mountain” de 2009, marca uma nova mudança na via musical dos C93, fruto do abandono de Cashmore e da colaboração de Baby Dee, Andrew Liles, James Blackshaw, Keith Wood e Alex Neilson. Destaque ainda para a participação de Rickie Lee Jones. Este é um trabalho onde a componente eléctrica adquire um maior relevo introduzindo novos ambientes na sonoridade C93.

Para a celebração do 50.º aniversário Tibet preparou a edição de “Baalstorm, Sing Omega” e a realização de exposições das suas pinturas. “Baalstorm mantém o line-up do anterior “Aleph…” bem como a sonoridade a qual se vê completada com a edição no ano passado de “Honeysuckle Aeons”.
Para além dos C93, Tibet, através da sua editora discográfica - Durtro, tem editado trabalhos de alguns dos seus artistas favoritos como são Tiny Tim, Shirley Collins, Baby Dee, Anthony and the Johnsons, Pantaleimon, Little Annie, Chris Connelly (Revolting Cocks, Ministry). Tem ainda as editoras Coptic Cat, Durtro Press e Ghost Story Press onde publica obras literárias de autores como Count Stenbock, Thomas Ligotti, David Park Barnitz ou LA Lewis. Ultrapassa já os quarenta, o número de volumes publicados em peculiares edições feitas à mão, todas elas agora consideradas como peças de colecção.
Por fim uma boa noticia a de que Michael Cashmore está de regresso ao seio da família C93 e, só nos resta desejar que de tal reunião perdure com resultados idênticos aos já obtidos e Feliz Aniversário David e continua a partilhar connosco a tua arte por muito tempo.

David Tibet

 
Steven Stepleton



(Photos by Angelo Fernandes)